Polícia evita banho de sangue no Morro do Dendê e prende Marcelo PQD
Publicada em 01/06/2007 às 15h29m
CBN, Bom Dia Rio, RJTV e Marcelo Dutra - O Globo
RIO - Numa ação de inteligência, após três meses de investigação, a polícia evitou a invasão do Morro do Dendê e um banho de sangue na favela na Ilha do Governador, na madrugada desta sexta-feira. A Polícia Militar e a Polícia Civil se anteciparam a bandidos que preparavam a retomada do controle de bocas-de-fumo no morro e prenderam Marcelo Soares de Medeiros, o Marcelo PQD , um dos traficantes mais procurados do Rio de Janeiro e que estava foragido desde janeiro. Com ele foram presas outras seis pessoas. O secretário de segurança, José Mariano Beltrame, negou que haja relação entre os traficantes que invadiram o Morro Chapéu Mangueira , no Leme, e o bando preso na Ilha do Governador.
No bando havia quatro ex-paraquedistas do Exército e o funcionário do gabinete da deputada Cidinha Campos (PDT) Rony Ribeiro. Segundo a polícia, Rony fazia parte de um grupo conhecido como "Bonde do PQD" e era morador do Dendê. Ele era um dos traficantes que seguia na frente do bando durante invasões por habilidade e conhecimento em manusear armamento pesado. A deputada demitiu Rony assim que soube da notícia. Ele teria trabalhado normalmente nesta quinta-feira, e levado seu filho de quatro anos para o trabalho.
A quadrilha de Marcelo PQD planejava invadir o Dendê e matar o traficante que chefia a venda de drogas no local e que é conhecido como Fernandinho. Para a ação, os bandidos montaram base numa casa na esquina das ruas Boemia e Jaburana, perto da favela. Dali eles aguardariam a chegada de comparsas em carros para a invasão do morro. O bando só não esperava ser surpreendido pelos policiais, que cercaram a casa de madrugada, por volta de 1h.
De dentro da casa, os bandidos informavam ter dois reféns, o que não se confirmou. Entre os presos está o morador da casa, que tinha cedido o espaço aos traficantes para a ação criminosa. As negociações levaram pelo menos seis horas e só foram concluídas às 7h30m, com a rendição dos bandidos. Às 5h da manhã, alguns parentes dos traficantes foram autorizados a atravessar a barreira policial para ajudar nas negociações. O dia já tinha amanhecido quando uma parente de Marcelo PQD saiu da casa, acompanhada de um delegado e com um telefone celular. Pelo aparelho, o bandido e a mulher dele anunciaram a rendição.
Marcelo PQD:
- Vou sair, aqui. Vou sair sem arma, vou sair sem nada.
Mulher:
- Ele tá se entregando, tô saindo do lado dele. Ele tá se entregando, tá sem arma nenhuma.
Logo depois, o grupo de sete homens começou a deixar a casa e a se entregar. Marcelo PQD foi o primeiro a entrar no carro da polícia. Durante toda a operação, homens da Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil (Core) e da PM, com as tropas de elite, como o Batalhão de Operações Especiais (Bope), cercaram todo o quarteirão no bairro Jardim Carioca, onde está a casa usada pelos bandidos.
Os primeiros moradores da vizinhança a acordar, se assustaram com o cerco policial nas ruas.
- Quando eu vi, eu me assustei, levei um susto danado. A gente vive assustado, porque vai trabalhar e não sabe se volta - disse uma senhora.
- Houve um confronto inicial, mas rápida, porque eles não tinham como fugir. Depois veio a negociação, que terminou às 7h30m - informou à Rádio CBN o comandante do 17º Batalhão da Polícia Militar (Ilha do Governador), coronel Célio da Cunha Pedrosa.
PQD saiu da prisão pela porta da frenteMarcelo PQD exigiu que os jornalistas acompanhassem a sua rendição. Os bandidos estavam com cinco fuzis e quatro pistolas, levadas para a Delegacia de Roubo e Furto de Automóveis, na Zona Norte. O diretor do Departamento de Polícia Especializada, Allan Turnowski, chegou a entrar na casa com parentes de Marcelo PQD para negociar a rendição.
A polícia informou que o grupo que estava com PQD é de homens treinados e preparados para ações de confronto. Eles são conhecidos como kamikazes (pilotos suicidas de avião das Forças Armadas do Japão na Segunda Guerra Mundial) e vão na frente do bando nessas ações de invasão e retomada de bocas-de-fumo. Atrás deles vão outros integrantes da quadrilha, menos preparados e menos treinados.
Em entrevista ao RJTV, da TV Globo, Gilberto Ribeiro, chefe Polícia Civil, afirmou que o uso de ex-integrantes das Forças Armadas não siginifica que a polícia precisa se aperfeiçoar para combater as quadrilhas de crime organizado:
- A polícia não precisa de aperfeiçoamento. É evidente que a utilização de ex-integrantes das Forças Armadas representa um problema a mais para a atuação da Polícia civil e da Polícia militar. Mas o treinamento que os nossos policiais recebem é suficiente para minimizar esse tipo de vantagem que, em tese, a criminalidade poderia ter. Tanto isso é verdade que hoje conseguimos prender essa quadrilha, com tantos ex-paraquedistas.
Fonte: www.oglobo.com.br